20 de novembro de 2009

Renée - Parte V: Criaturas da noite

Acordei. Estava num lugar desconhecido, não me lembro como era ao certo. Parecia um quarto de hospital, branco, com macas, mas totalmente deserto.

Olhei a minha volta. Vultos encapuzados se materializaram, seus rostos ocultos pelas sombras. Eu me sentia dolorida, mas sob outros aspectos, bem. Não sabia o que estava acontecendo. Alguma coisa no meu rosto deve ter denunciado a minha confusão, pois a “criatura” mais próxima disse, com uma voz aguda:

– Você esteve num coma profundo. Nós te trouxemos de volta.

– Obrigada. – disse eu – Quem são vocês? Onde estou?

– Quem somos não te interessa. Você está num quarto de hospital, mas numa dimensão diferente. Agora, sem mais perguntas.

Não fazer mais perguntas nunca fora mais difícil, quando minha cabeça estava lotada de pontos de interrogação. Dimensão diferente? Seria um sonho? Percebi que a criatura voltara a falar, e saí do meu devaneio:

– As pessoas são engraçadas. Você acha mesmo que nós trouxemos a sua vida de volta como um favor? Tudo tem um preço. Se você quiser ficar com esse seu corpinho, terá de pagar.

– Com o quê? Eu não tenho nada para oferecer, só tenho dívidas, uma pensão abandonada e um carro destruído – lamentei.

– Não queremos nada disso – riu a criatura – Não nos adianta em nada. Nós queremos o que você tem de mais precioso.

– O quê? – perguntei, curiosa.

– Sua alma.

O tom de voz da criatura era suave. Estremeci: como poderia dar aquilo? Tentei me forçar a correr, mas minhas pernas iriam ceder. Com os olhos pregados na criatura, disse, num sussurro rouco:

– Pode explicar melhor?

– Nós queremos a sua alma. Você tem que prometer servir ao próprio Rei do Inferno até o resto de seus dias. Você vai ser uma vampira. Vai se alimentar do sangue alheio, mantendo-se sempre jovem. Viver eternamente. Tudo que pedimos é a sua alma.

Tentei me forçar a acreditar que sonhava, mas sem sucesso. Tudo era muito real, o cheiro característico de hospital, as dores no corpo, a voz da criatura, os arrepios que percorriam meu corpo... Não era um sonho. Tinha que me decidir. Viver para sempre e me alimentar do sangue de pessoas? Ou morrer tão nova, sem família ou amigos? Não, eu não podia fazer isso. Tinha que tem a chance de viver também. Eu não tinha nada a perder e tudo a ganhar. Tomei uma decisão: não ia desistir da minha vida tão facilmente.

– Aceito. - minha voz falhou na tentativa de dizer isso com confiança.

Imediatamente, as criaturas sumiram. Eu me vi acordando no mesmo hospital. Agora estava rodeada por enfermeiros. Era incrível como não havia ninguém até uns segundos atrás.

– Ela acordou! – gritou um enfermeiro, checando os batimentos cardíacos.

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