27 de outubro de 2009

Renée - Parte II: O orfanato

O orfanato era um lugar velho, mas bem confortável. Eu dormia num beliche simples, na parte de cima, com uma garota chamada Lien dormindo embaixo. O quarto tinha lâmpadas incandescentes de luz amarela. Havia uma janela com cortinas brancas de renda dando para um pequeno canteiro de flores, aonde os pássaros iam de manhã, bem cedo. No chão, um tapete vermelho no estilo persa. Um guarda roupa para cada uma, pequeno, de madeira escura e envernizada. Uma escrivaninha bem grande para fazer trabalhos de escola, de madeira, colocada ao lado da janela, completava o visual.



Lá, eu tinha várias amigas. A melhor delas era Lien, minha colega de quarto. Digamos que eu era bem popular. Eu era muito animada, esperta e adorava fazer rebeldias. Talvez por isso nunca tenha sido adotada. Acho que preferem crianças certinhas e quietas.


Todos os dias, ficava de manhã na sala de aula, aprendendo Português, Matemática, Ciências, Geografia, História e Literatura. Eu sempre fui uma aluna “na média”. Não era muito boa, mas passava. Achava tudo inútil, e detestava perder tempo ali (de que me adiantaria saber quando a América foi descoberta e saber a raiz quadrada de PI quando eu nunca usaria isso na vida?). A sala era retangular, bem grande, com carteiras rabiscadas em fileiras retas. Um grande quadro-negro cobria uma das paredes, deixando transparecer aqui e ali um pedaço de papel de parede encardido.


Eu sempre achei que o orfanato não era o meu lugar. Mas, mesmo que eu não percebesse, eu tinha encontrado ali uma família.

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